28.11.07

O Ponto Sem Retorno

Na entrada do labirinto ele parou e olhou para trás. Há muito tempo que a estrada era apenas uma reta no meio do deserto e raramente aparecia algum vestígio ou sinal de vida. Cinzas de uma fogueira já sem brasas ou galhos secos pela exposição ao tempo. Olhou novamente para o labirinto e se lembrou que ele já tinha estado em um lugar parecido. Sua visão só alcançava até a primeira curva à esquerda e a visão era bonita. Pelas paredes de pedra nasciam flores brancas e azuis. As brancas tinham pintinhas pretas, as azuis brilhavam.

Ele continuou parado na entrada, mas não olhou mais para trás. Onde ele tinha passado ele se lembrava bem. A estrada vazia e um outro labirinto. Mas afastou a lembrança com um leve movimento de cabeça. A lembrança voltava como um aviso luminoso que explode na noite de uma rua chuvosa. O luminoso era vermelho.

À sua frente as flores brilhavam convidativas, e ele quase conseguia ouvir uma voz que o vento trazia. Havia um atalho que contornava o labirinto, tão vasto e vazio quanto a estrada por onde ele tinha vindo. Olhou novamente para a entrada do labirinto e para as flores. Deu um passo e foi como se as flores acendessem e iluminassem tudo. Ele deu outro passo e estava dentro do labirinto. Aquele já era o ponto sem retorno.

21.11.07

Tempestade

Ele olhou pela janela e viu que o céu estava carregado de novo. Fazia tempo que não ficava assim, escuro, carregado. A mesma chuva que ajuda a germinar pode destruir, estranho isso. Mesmo assim ele abriu a janela, deixou o vento bater forte no rosto. “É meu elemento preferido”, pensou ele se referindo ao vento viajante que tudo leva e tudo traz.

A tempestade estava perto, jogando coisas de um lugar para outro, desfolhando árvores. Dava pra sentir os trovões no peito. Mas o céu estava escuro e nem sempre depois da tempestade há um arco-íris. Ele queria muito que houvesse um.


"...On the horizon, dark clouds up ahead, for the storm has just begun..."
* Sailing Ships * Whitesnake *

17.11.07

Interlude

Time is like a dream and now, for a time, you are mine
Let's hold fast to the dream that tastes and sparkles like wine

Who knows (who knows) If it's real
Or just something we're both dreaming of

What seems like an interlude now
Could be the beginning of love

Loving you Is a world that's strange
So much more than my heart can hold

Loving you Makes the whole world change
Loving you, I could not grow old

No, nobody knows When love will end
So till then, sweet friend ...

What seems like an interlude now
Could be the beginning of love

- Morrissey & Siouxsie Sioux -

* Interlúdio, trecho instrumental em uma canção que une duas partes mais importantes da composição. O que seria este interlúdio? Uma ponte, uma ligação entre algo que passou e algo que virá.

Poucas vezes vi um dueto tão interessante. Morrissey, a voz do Smiths, e Siouxsie, a voz do Siouxsie and the Banshees. Se você não conhece essa música, vá atrás. É linda, apesar de melancólica, triste até.

14.11.07

Na Imensidão Branca

Era tão branco, tão delicado e sua textura era tão suave que por alguns instantes nada mais importava. Ele não precisava de mais nada, só precisava e só queria ficar ali, olhando bem de perto. O calor que dali emanava chegava até seus lábios, mesmo sem que ele tocasse. Aquele calor era o seu ar, seu alimento. Ele sentia que entrava em sua pele, em seu sangue, e corria por todo o seu corpo. Era ao mesmo tempo o veneno que o matava e o elixir que lhe trazia vida.

A impressão era de que se ele tocasse poderia macular aquele branco, aquele ar de pureza, de sagrado. O simples toque era cheio de reverência, de respeito e de vontade.

Não existia mais o tempo. Se os minutos passavam ou se o tempo estava congelado não fazia diferença. Assim como não importava o que se passava com o mundo que girava ao redor. Existia um outro mundo? Existia algo além daquele branco e daquele calor?

Ele abriu os olhos e viu que existia e eram duas pequenas marcas escuras na imensidão daquele branco.

10.11.07

Mar Amar Amarelo

* Mar

Amar
Amarelo *