27.12.07

Vamos ao Cinema? - II Eu Fui

O último texto me deixou com vontade de ir ao cinema. E depois da tentativa frustrada, fui sozinho mesmo, afinal sempre foi assim. Logo ao chegar na bilheteria me lembrei que além de não gostar de cinema cheio por causa do falatório e da pipoca, acabo me sentindo mal por ser o 'número ímpar' do local. De um lado, par, do outro, pares. Pura inveja, confesso. É, tem alguma coisa muito errada comigo. Vou procurar o telefone da minha professora de psicologia...

Comprado o ingresso para assistir "Amor nos Tempos do Cólera", fui dar uma volta no templo do consumismo desenfreado. Infelizmente não há mais por aqui salas de cinema que não façam parte do maldito monopólio que acabou com os cinemas de rua. Quarta-feira, no meio das férias, o local estava cheio. Fui tomar alguma coisa porque ainda sou filho de Deus, e dizem que Deus dará.

Chopp em copo de plástico é um crime, mas não tinha muita opção. Copo na mão, livro na outra -é, fui acompanhado de um livrinho - encontrei um local para sentar e aguardar a sessão após uns 10 minutos perambulando pela praça de alimentação. Mesa vazia, saí quase correndo.

Acomodado no meu canto percebo na mesa da frente três meninas e um cara. Eles estavam olhando pra mim. A primeira reação e dar aquela olhada e ver se não derrubou nada na roupa, se não está com bigode de chopp, etc. Mergulhei no meu copo e no livro enquanto as pessoas tristes ficavam felizes gastando dinheiro ou simplesmente trocando os presentes natalinos.

Eis que de repente, não mais que de repente, uma das meninas se levanta e vem em direção à minha mesa. Disfarçadamente olhei pro lado tentando ver se não tinha nada atrás de mim. Enquanto ela caminhava em minha direção com um sorriso no rosto pensei "o que tá acontecendo? Ela vai me pedir algo". Dito e feito.

Toda simpática a mocinha de lisos cabelos claros disse: "Oi, você vai usar essas cadeiras?". Respondi que não. "Posso pegar? As duas, tudo bem?" Claro, moça, claro... mas bem que você poderia sentar aqui comigo. Obviamente essa última frase não saiu da garganta e a moça voltou toda formosa para sua mesa com as cadeiras.

Bom, o filme é simplesmente maravilhoso e traz a histótia do livro homônimo de Gabriel Garcia Marquez. Confesso na minha grande ignorância que não li o livro, mas vou ler. Trata-se da história de um amor que se manteve vivo por 53 anos, até que no final o encontro de almas e corpos é consumado. Ah não vou contar aqui não. Mas vale muito a pena assistir. Bom filme pra vocês.

26.12.07

Vamos ao Cinema?

Ah que sorte! Ele ganhou um par de ingressos para assistir um filme que estava muito a fim de assistir. E quem não gosta de cinema? Ele gostava de ir ao cinema, mas fazia tempo que não ia. Geralmente ia sozinho - quase sempre - e no meio da semana. As salas cheias de adolescentes comendo pipoca e falando alto o irritavam.

"Every night when everybody has fun, Here am I sitting all on my own, It won't be long yeah, yeah, yeah"

O filme era um musical, não era muito fã de musicais - só do Hair, mas esse era um clássico 'bicho-grilo'. Os ingressos que ganhou eram para o filme que trazia algumas das melhores músicas do século XX, clássicos do Rock n' Roll. Quando recebeu os ingressos, só um rosto apareceu em sua mente. Só um nome surgiu em sua boca. Era mais do que óbvio, há tempos aquele rosto e aquele nome eram uma constante no seu dia-a-dia.

"Had it been another day I might have looked the other ways and, I’d have never been aware but as it is I’ll dream of her tonight"

O convite foi feito, mas a resposta já era esperada. As coisas já não eram mais como tempos atrás. Aliás, não houve efetivamente uma resposta, apenas um silêncio. Mas era uma resposta clara.

"Oh yeah, I'll tell you something, I think you'll understand. When I'll say that something I wanna hold your hand"

O filme? Saiu de cartaz. Todo mundo sabe que é sempre assim. O filme estréia, fica um tempo e depois sai de cartaz. Toda sessão acaba, todo filme sai de cartaz. Mais rápido ainda se não tem ninguém pra assistir. O seu filme só tinha um espectador. Guardou de lembrança os ingressos do filme que não assistiram.

25.12.07

Primavera e Outono

Naquela manhã ela acordou e sorriu ainda antes de abrir os olhos. Uma energia corria por todo seu corpo como há muito não sentia. Foi para a janela e abriu as duas folhas convidando o mundo para entrar ali. Era Primavera dentro dela. No calendário ela mal sabia em que mês estava. Não importava. O importante é que era Primavera dentro dela.

Ela abriu a janela e o vento ainda frio da manhã agitou seus cabelos. Sentiu os primeiros raios de sol tocarem seu rosto e o calor correr por todo seu corpo. Era como se estivesse em seu sangue. O céu estava pintado de um azul que doía os olhos, mas lindo mesmo assim. Voltou correndo pra cama e abraçou o travesseiro. Permaneceu assim alguns segundos. Ainda abraçada, levantou-se e voltou para a janela. O mundo tinha novas cores, nova vida. Foi Primavera dentro dela.

Hoje acordou e lembrou-se daquela manhã como se fosse há anos atrás. Vidas atrás. Mal abriu os olhos e eles marejaram. Sentiu arderem e o gosto salgado na garganta. Mesmo assim não chorou. Levantou-se e foi em direção da janela. Abriu-a devagar, quase com medo, como se esperasse um súbito golpe ou dedos apontados para seu rosto, rindo de seus olhos vermelhos. O vento que veio de encontro ao seu rosto era seco e lhe deu a sensação de trazer agulhas ou cacos de vidro. Seus olhos secaram, seus lábios também.

Ficou alguns instantes ali parada, olhando pela janela o céu e a vida que agora lhe pareciam murchos. Em sua mente foi repassando cenas, diálogos, mensagens, momentos... Mas agora eles tinham a cor de uma fotografia velha, sépia, como se há muito estivesse esquecida num baú velho. O sol ela sabia que brilhava em outros rostos agora e aquecia outros corpos. Nesta manhã foi Outono dentro dela.

24.12.07

Vazio

Véspera de Natal, fui dar uma volta no centro da cidade. Eu gosto de andar no centro em feriado ou aos domingos. Gosto das ruas vazias, apesar que não deu muito certo hoje. Mesmo indo já por volta das 17h00 algumas lojas ainda estavam abertas e, portanto, havia movimento nas ruas. Mas logo esvaziaram. Fui ao Parque Celso Daniel ler o livro que a Paula me emprestou - obrigado Paulete pelo "Pequenas Epifanias" - e fiquei lá, sentindo o vento.

Como disse, gosto das ruas vazias. Com as ruas vazias você pode andar com mais calma, observar tudo ao redor, predios, lugares, e até mesmo as poucas pessoas que cruzam seu caminho. Sem correria, sem pressa. Eu gosto de lugares vazios.

Eu gosto de praia vazia, por exemplo. Adoro ir pra uma praia vazia, que só tenha meia-dúzia andando pra lá e pra cá, ou alguns tomando sol. Detesto ir pra Praia Grande, Santos e afins - Dona Carol Sena Masuda, nada pessoal contra sua cidade natal. Prefiro uma praia vazia, ou com poucas pessoas.

Claro que têm lugares que são melhores quando estão cheios. Baladas por exemplo. Mas cheio, não lotado. Será fobia de pessoas? Fobia de gente? Detesto shopping, mesmo quando está vazio.

Talvez morar sozinho há tanto tempo também contribua pra isso. Mas há aquele momento que é preferível estar com pessoas. Ou melhor, há 'aquele' momento, 'naquele' lugar, com 'aquela' pessoa.

Mas 'aquele' lugar está vazio. 'Aquele' momento é só um devaneio. Está tudo vazio.

22.12.07

A Última Estação

Já era tarde da noite quando pegaram o trem. A viagem era longa da estação em que estavam até onde deveriam descer. Devido ao horário, poucas pessoas estavam no trem. Entraram no primeiro vagão e se sentaram no último banco. Ele a abraçou e ela apoiou a cabeça em seu peito. Ficaram assim por algum tempo até que ela ergueu o rosto e lhe deu um beijo na boca.

Eram beijos lentos, demorados, intensos. As línguas se movimentavam como em um balé e assim como ela mordia a língua dele, ele mordia seu lábio inferior. As mãos dos dois se entrelaçavam e percorriam o corpo alheio. Enquanto a beijava ele abriu dois botões de sua blusinha. Seu sutiã preto ficou à mostra e parte de seus seios. Ela segurou a blusa e assustada olhou para a outra extremidade do vagão. Havia apenas um homem sentado em um banco, cochilando. Ela deu um leve sorriso para ele e abriu a blusa.

Ela começou a morder seu pescoço, mordia, passava a lingua e assoprava. Ela sentia que isso fazia ele se arrepiar todo e ela gostava dessa sensação. Ele soltou seu sutiã e sua mão passeou por seus seios. Adorou ver a cara de tesão e o suspiro que ela deu quando apertou levemente seu mamilo. O trem parou na estação. Por alguns segundos os dois tiveram que se recompor. Mas ninguém entrou no vagão e o outro passageiro continuava dormindo.

Mal o trem fechou as portas e eles voltaram a se beijar. Os dois se balançavam conforme a velocidade do trem aumentava. Pela janela só conseguiam ver os rastros das luzes ao longe, passando rápido, como se acelerassem à medida que o tesão dos dois crescia. O sangue corria em suas veias com a mesma rapidez que as luzes na janela. Enquanto acariciava seu mamilo esquerdo, sua boca foi de encontro ao direito. Com os dedos entre seus cabelos, ela segurava firme a cabeça dele de encontro ao seu peito. Cada vez que ela sentia seus dentes no mamilo ela forçava mais sua cabeça.

Com um puxão forte ela o tirou daquela posição e lhe deu um beijo na boca. A mordida que ela lhe deu deixou seu lábio inferior latejando. Os dois estavam loucos e talvez nem conseguissem parar se de repente aparecesse alguém ali. "Eu quero chupar você". Sem hesitar ela abriu a calça dele e começou a chupá-lo ali, agachada no banco do trem. Trem, luz, estação, passageiro... ele já não conseguia ver nada disso. A única coisa que ele via era ela com aquele olhar cheio de malícia e tesão. Só aqueles olhos eram suficientes para deixá-lo fora de si.

“Estação terminal, a CPTM deseja a todos uma boa noite”, ouviram a voz intrusa que saia dos auto-falantes dentro do vagão. Segurando com força ele puxou-a para cima e lhe beijou a boca intensamente. Ela deu uma leve risada quando percebeu que o passageiro dorminhoco não estava mais no vagão. “O que será que ele viu?” – disse enquanto fechava sua blusa.

Se arrumaram e desceram do vagão. Era a última estação.

16.12.07

Na Correnteza

Avistou muitas flores bonitas enquanto caminhava pela trilha. O cheiro da terra e do mato entravam em seu corpo como um bálsamo. Sentia alegria por estar ali. Era apenas uma trilha, já esteve em outras, mas as trilhas nunca são iguais, nunca. Conforme entrava cada vez mais na mata fechada, uma euforia ia crescendo em seu peito e incentivava a continuar a marcha.

Sentiu o cheiro de água. "É uma cachoeira", pensou. Logo começou a ouvir o murmúrio das águas e avistou borboletas de um azul roial fascinante. Sempre há dessas perto de cachoerias. Continuou pela trilha, a empolgação aumentou por imaginar o que estava à frente. Finalmente avistou o céu claro e a queda que formava um caudaloso rio. Parou e observou por alguns instantes a maravilha que se mostrava à seus olhos. Cachoeiras são sempre fascinantes.

Não teve tempo de se segurar quando o chão da margem cedeu. Caiu na forte correnteza e desesperadamente começou a se debater na tentativa de manter-se acima das águas. A correnteza era forte e impiedosa, seu corpo era arrastado como uma folha seca de um lado para outro. Com o desespero, começou a engolir a água e percebeu que estava perdendo suas forças.

Era uma luta e tanto ir contra a correnteza. Não adiantava esticar seus braços, não havia onde se agarrar. Sua roupa pesava e dificultava sua situação. Parou de lutar. Pensou que a única coisa que poderia fazer era deixar seu corpo seguir o curso do rio. Lembrou-se da trilha, da margem, e do escorregão para dentro da água.

Parou de se debater. Ergueu a cabeça e respirou fundo. Abriu os braços e começou a boiar olhando o céu claro que se mostrava acima. Sentiu uma calma imensa e deixou seus membros relaxados. "Vou deixar levar". Uma borboleta azul acompanhava seu passeio rio abaixo.

15.12.07

Zahir

Ela o avistou chegando ao longe. Era fácil identificá-lo. Não que ele se sobressaisse fisicamente, não, não tinha nenhum atrativo especial, era apenas mais um na multidão. Não para ela. O que era aquilo que o distinguia ela não sabia dizer, só sentir.

Com o mesmo sorriso tímido mas olhando-a fixamente nos olhos ele aproximou-se. Ela se levantou e o beijou do lado direito do rosto, do mesmo modo como adorava fazer, bem devagar e deixando que seus lábios encostassem levemente no canto da boca dele. Ela adorava essa brincadeira e sabia que isso o deixava um pouco desnorteado.

Os dois sentaram-se e começaram a beber. Era só mais um encontro num sábado à tarde em um barzinho, não era um encontro romântico. No fundo, os dois sabiam que tudo que eles faziam era romântico. Mas de todo modo bem informal e descontraído. A mesa localizada na área externa do bar fazia com que os dois fossem acariciados pelo vento forte daquela tarde. O vento que passava pelos longos cabelos negros dela trazia o seu perfume até ele. "Ela está usando o 'Ops!'". Nesses momentos ele respirava fundo e sentia como se estivessem abraçados.

- Andei pensando muito sobre você esses dias, falou sem olhar para ele, tentando equilibrar o copo cheio em cima da mesa.
- Ah é? Pensando exatamente o quê?
- Descobri uma palavra pra definir você.
- Mas definições em apenas uma palavra geralmente não conseguem englobar a totalidade de alguém.
- É claro, seu bobo, mas é uma definição de uma parte importante pra mim.
- E qual é?
- Zahir.
- Zahir? Isso não é o nome de um livro?
- É sim, é que eu li a respeito e a definição da palavra se encaixou perfeitamente em você.
- Vou contar pros seus amigos intelectuais que você anda lendo esse cara - os dois riram da provocação.
- Você já leu as Valkirias que eu sei - ela retrucou fazendo uma careta.
- Mas afinal o que é Zahir?
- Ah esse é o seu dever de casa. Depois você procura o que significa essa palavra.

Ela sabia que ele era curioso e assim que chegasse em casa iria procurar o tal Zahir. Beberam mais alguns copos, falaram de amenidades, se provocaram de forma sutil, como há tempos os dois costumavam fazer. Na despedida o mesmo beijo que queria dizer tanta coisa - eles sabiam disso - e um abraço apertado.

Assim que chegou em casa ele ligou o computador e foi procurar o que era o Zahir. Leu a definição e sentiu um calor enrubescer seu rosto. Pegou o telefone e ligou para a casa dela.

- Oi, descobri.
- Uhm e o que achou?
- Descobri que você também é o meu Zahir.

14.12.07

Quarto de Dormir

"Um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois
e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for
bem abraçada no lençol da cama vai chorar por nós
pensando no escuro ter ouvido o som da minha voz
vai acariciar seu próprio corpo e na imaginação
fazer de conta que a sua agora é a minha mão
mas eu não vou saber de nada do que você vai sentir
sozinha no seu quarto de dormir.

No cine-pensamento eu também tento reconstituir
as coisas que um dia você disse pra me seduzir
enquanto na janela espero a chuva que não quer cair
o vento traz o riso seu que sempre me fazia rir
e o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si
até toda memória dessa nossa estória se extinguir
e você nunca vai saber de nada do que eu senti
sozinho no meu quarto de dormir."

- Arnaldo Antunes / Marcelo Jeneci -


Arnaldo Antunes. Não tenho nem o que comentar. Letra linda, triste mas linda.

12.12.07

Vinho Barato

Encheu o copo com o vinho que tinha acabado de comprar e deu um sorriso irônico. "Vinho barato em um copo barato, como você é um cara sofisticado, não?!". Ligou o rádio e foi bem na hora do refrão: "Now he's too old to Rock n' Roll, but he's too young to die...". Deu uma gargalhada áspera. Ele também se sentia velho demais para muitas coisas, mas nunca havia se sentido tão velho quanto ultimamente.

Serviu-se de mais um gole e desligou o rádio. Ficou imóvel, sentado e segurando o copo cheio na mesa. Olhou para o lado e viu a foto dos dois que estava à mostra. Lembrou-se dos sinais que recebeu, dos sinais que enviou e perguntou-se onde foi que ele entendeu errado. "Ah eu te avisei várias vezes, controle-se! Você achou que tinha espaço suficiente para se deixar levar, agora sai dessa." Olhou para a tv desligada e sua imagem apareceu refletida, encarando-o de frente, como se fosse uma outra pessoa.

Os olhos que o fitavam mostravam desprezo e escárnio. Por um instante se assustou, achou que realmente fosse outra pessoa que o encarava. Mas não conseguiu desviar o olhar e continuou ali, parado e encarando aquela imagem que parecia tão diferente de si mesmo. Lembrou-se de Dorian Gray vendo seus pecados refletidos na pintura. "Que presunção".

Ergueu o copo e fez uma saudação a Baco. Agradeceu por saborear o vinho - e suas consequências. Mas lamentou-se por ter se embriagado rápido demais.

Dedicatória

Sem levantar da cama ela fechou o livro e o colocou ao lado. Se acomodou sob os lençóis mas percebeu que não conseguiria dormir. Esticou seu braço dolorido pela posição que estava e pegou o livro novamente. Não abriu onde tinha parado, mas sim na primeira folha. Leu a dedicatória como se ouvisse a voz dele sussurando em seu ouvido. Ela gostava de ouví-lo assim, quase grudado nela, sentindo o calor de sua respiração em seu ouvido, em seu pescoço.

Parou na metade da mensagem, encostou o livro no peito e suspirou profundamente. Havia um pesar nesse ato. O ar entrava e saia de seus pulmões carregado de sentimentos que ela não conseguia nomear, nem colocar em ordem. Fez força para erguer o livro novamente como se erguesse uma caixa grande e pesada, cheia de seus sentimentos, seus desejos e seus medos.

Chegou ao final do pequeno texto que ele escreveu e leu as últimas palavras em voz alta, "Um Abraço". Novamente o peso do livro se fez sentir sobre seu peito. Era como se aquele monte de folhas pesasse como o corpo dele. Com os olhos fechados ela abraçou o livro tentando sentir o cheiro de quem escreveu aquilo. Era ali que ela sentia mais a sua falta, naquele abraço.

11.12.07

Trilha Sonora

Minha vida tem trilha sonora. E é um álbum triplo, quádruplo talvez.
Desde muito cedo eu estive envolvido com música.

Eu sempre precisei de uma música para expressar tudo aquilo que eu não consigo dizer, escrever, mas que sinto. Coisas boas, ruins, animadas ou tristes. E como eu tenho uma memória péssima, as músicas acabam servindo de apoio para minhas lembranças. E mesmo assim esqueço, não por maldade ou desprezo, simplesmente não lembro de coisas.

Eu elejo trilhas sonoras. Tanto para os momentos bons quanto para os ruins. E algumas músicas acabam sendo usadas mais de uma vez para momentos distintos ou para situações diferentes. Algumas trazem apenas lembranças difusas de momentos da infância, como enquanto ouvia rádio na cozinha enquanto minha mãe fazia algo. “Voyage Voyage”, da Desireless, por exemplo. É engraçado até hoje eu ir a baladas góticas / anos 80 e ouvir essa música.

“Rebellion in Dreamland” do Gamma Ray, me lembra uma das primeiras viagens pra Andradas, com meus camaradas Valdir e Pantcho. Quatro horas ouvindo praticamente a mesma música e cantando alto dentro de uma Kombi branca. Demais... rs

Tem algumas que marcam mais, dependendo da relação delas com determinado fato, ou pessoa. Às vezes me perco no que são lembranças e no que são apenas imaginações. Mas o importante é que elas estão sempre lá, as minhas trilhas sonoras.

Tanto nos momentos bons quanto nos ruins, nos lembrados e nos imaginados. A lista é grande e às vezes não é a letra em si, mas o clima da música. Alegre ou triste. É verdade, eu confesso que algumas podem parecer até meio brega, mas isso acontece em determinados momentos da vida de todo mundo.

É, algumas são até românticas, outras não tem nada a ver com isso. Algumas alegres, outras tristes, mas são a minha trilha sonora, com momentos bons e, às vezes, nem tanto. São tantas e colocá-las aqui seria até cansativo. Mas algumas são “Soldier Of Fortune” (Deep Purple), “My Wine in Silence” (My Dying Bride), “Love You Like I Do” (H.I.M.), “Gone With the Sin” (H.I.M.), “She’s a Rainbow” (Rolling Stones), “Only When I Sleep” (The Corrs), “Spirit of the Sea” (Blackmore’s Night), “How Soon is Now?” (Smiths), “Interlude” (Morrissey), “Battle Hymn” (Manowar), Arnaldo Antunes, Helloween, Golpe de Estado, Ramones, Sarah Brightmam…

Tantas coisas, tantas músicas, algumas pessoas...

9.12.07

Rainbow Eyes

She's been gone since yesterday, Oh I didn't care
Never cared for yesterdays, Fancies in the air
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes, Rainbow eyes, Rainbow eyes
Love should be a simple blend, A whispering on the shore
No clever words you can't defend, They lead to never more
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes, Rainbow eyes, Rainbow eyes
Summer nights are colder now, They've taken down the fair
All the lights have died somehow, Or were they ever there?
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes
- Rainbow -

Clássico gravado pelo Rainbow de Ritchie Blackmore no álbum "Long Live Rock n' Roll", último com Ronnie James Dio no vocal. Esta sempre foi uma das minhas preferidas do Rainbow. Ela tem uma tristeza bela, uma melancolia serena. E isso é dificil conseguir, Serenidade.

Parece estranho, 'olhos de arco-íris'? Não, não é não. São como os olhos da Lu, olhos de arco-íris. Azuis ou verdes? Olhos de arco-íris. Lindos. Um beijo pra você Lu!

Eco

O eco é um fenômeno que ocorre quando um som é emitido, encontra uma barreira e volta ao emissor.

Às vezes emitimos um som, ou um sinal, e parece que há um eco. Ele volta pra você, o vento o traz de volta e isso pode fascinar. Mas o que você recebe no eco é apenas aquilo mesmo que você enviou. Você pode achar que é algo novo, que é uma resposta, mas não é.

O eco é como a imagem no espelho. Narciso fascinado com sua própria imagem no lago. Aliás, o lago em que Narciso se viu e se apaixonou é chamado Lago de Eco, e Eco é o nome de uma ninfa que se apaixonou pelo belo rapaz, segundo uma das versões do mito.

O vento leva suas mensagens e traz outras, mas também traz o eco, que é só uma ilusão.

7.12.07

As Cerejas

O velho Sanctuarium anda enveredando por caminhos demasiadamente viajantes. Vou trazê-lo de volta à Terra. Ele anda muito nas nuvens...

No dia 24 de novembro eu fui fazer a cobertura da oitava edição do São Paulo Mix Festival, o show promovido pela rádio Mix FM, que aliás eu nunca fui ouvinte. O show foi no Arena Skol Anhembi, uma puta infra-estrutura, sala de imprensa com computadores, freezer cheio de refri - faltou cerveja - mesa com frutas e salgados. Tudo muito bom.
Os shows foram o menos interessante, já que não tinha nada ali que eu gostasse muito. Tá, tudo bem, eu sempre gostei de Capital Inicial, mas antes dessa fase 'banda de menininha' e também gosto da Pitty... uhm a Pitty... Mas a balada valeu mais pela animação na sala de imprensa. Muita gente pra pouco espaço e ainda conheci um pessoal muito bacana.
Engraçado foi que enquanto estava tentando achar a entrada de imprensa encontrei um casal na mesma situação que eu e - coincidências estranhas - a menina eu já conhecia do orkut. Fazemos parte de umas comunidades de fotografia e ela é de Santo André. Estava lá com o namorado, muito gente boa também.

Ah sobre os shows não vou falar não, quem quiser acesse a resenha que eu fiz. Mas vou falar sobre a Pitty. Todo mundo que conhece como funciona esse mundo da música sabe o que são as 'groupies', as garotas que caçam os caras de bandas e tudo mais. Pois agora eu entendi por que isso acontece. A figura no palco tem uma atração especial.

Não, a Pitty não é um mulherão, aliás é bem baixinha. Nem é tão bonita de rosto também, mas é bonitinha. Ah eu acho todo mundo bonito! Ela tem é uma certa atitude, tem 'algo', além de ser inevitável dizer que é um tesão ver ela no palco. Sem contar que eu confesso que o estilo branquinha de cabelo preto me fascina.
Eu nunca tinha visto um show dela e realmente é muito bacana, muito Rock n' Roll, muito animado. E o guitarrista Martin faz um som legal. Gostei mesmo foram das duas cerejas. É a Pitty tem duas cerejas. Pena que eu não consegui fotografar - nem ver - as cerejinhas dela de perto.

4.12.07

Sobre o Tempo II

Quanto tempo é necessário para algo importante acontecer? Quanto tempo para saber se é importante? Quanto tempo para você perder o controle de algo? Aliás, alguém realmente tem o controle de algo? Quanto tempo andando dentro do labirinto para você estar realmente perdido?

Quanto da diferença de Tempo é muito ou pouco? Quatro meses? Um ano? Cinco? Dez anos? Quanto é possível esperar? Qual o limite da paciência?

Ele está sempre brincando com a gente, o Tempo. Que mudanças o Tempo traz em um mês, por exemplo? Um mês...