Naquela manhã ela acordou e sorriu ainda antes de abrir os olhos. Uma energia corria por todo seu corpo como há muito não sentia. Foi para a janela e abriu as duas folhas convidando o mundo para entrar ali. Era Primavera dentro dela. No calendário ela mal sabia em que mês estava. Não importava. O importante é que era Primavera dentro dela.
Ela abriu a janela e o vento ainda frio da manhã agitou seus cabelos. Sentiu os primeiros raios de sol tocarem seu rosto e o calor correr por todo seu corpo. Era como se estivesse em seu sangue. O céu estava pintado de um azul que doía os olhos, mas lindo mesmo assim. Voltou correndo pra cama e abraçou o travesseiro. Permaneceu assim alguns segundos. Ainda abraçada, levantou-se e voltou para a janela. O mundo tinha novas cores, nova vida. Foi Primavera dentro dela.
Hoje acordou e lembrou-se daquela manhã como se fosse há anos atrás. Vidas atrás. Mal abriu os olhos e eles marejaram. Sentiu arderem e o gosto salgado na garganta. Mesmo assim não chorou. Levantou-se e foi em direção da janela. Abriu-a devagar, quase com medo, como se esperasse um súbito golpe ou dedos apontados para seu rosto, rindo de seus olhos vermelhos. O vento que veio de encontro ao seu rosto era seco e lhe deu a sensação de trazer agulhas ou cacos de vidro. Seus olhos secaram, seus lábios também.
Ficou alguns instantes ali parada, olhando pela janela o céu e a vida que agora lhe pareciam murchos. Em sua mente foi repassando cenas, diálogos, mensagens, momentos... Mas agora eles tinham a cor de uma fotografia velha, sépia, como se há muito estivesse esquecida num baú velho. O sol ela sabia que brilhava em outros rostos agora e aquecia outros corpos. Nesta manhã foi Outono dentro dela.
4 comentários:
Ai, Edu, que lindo o seu texto. Sinto que ele foi escrito "para mim". Fala muito de mim...
Mas, o que faço com o outono?
É outono dentro de mim
As folhas secas caem, na esperança de que algum galho bom sobreviva a poda
Renasça e floresça lindamente
Como em tempos em que só havia primavera
Sol e sorriso
É bom quando a primavera se instala em nós. Mas o outono eu sempre achei mto poético, até mais que a primavera... acho que é o monocromatismo de tantos tons que fascina, sei lá.
Belíssimo texto, mocinho.
Belo texto edu...
Parabénsssss pelo texto, isso foi profundo adoreiiiii
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