27.12.07

Vamos ao Cinema? - II Eu Fui

O último texto me deixou com vontade de ir ao cinema. E depois da tentativa frustrada, fui sozinho mesmo, afinal sempre foi assim. Logo ao chegar na bilheteria me lembrei que além de não gostar de cinema cheio por causa do falatório e da pipoca, acabo me sentindo mal por ser o 'número ímpar' do local. De um lado, par, do outro, pares. Pura inveja, confesso. É, tem alguma coisa muito errada comigo. Vou procurar o telefone da minha professora de psicologia...

Comprado o ingresso para assistir "Amor nos Tempos do Cólera", fui dar uma volta no templo do consumismo desenfreado. Infelizmente não há mais por aqui salas de cinema que não façam parte do maldito monopólio que acabou com os cinemas de rua. Quarta-feira, no meio das férias, o local estava cheio. Fui tomar alguma coisa porque ainda sou filho de Deus, e dizem que Deus dará.

Chopp em copo de plástico é um crime, mas não tinha muita opção. Copo na mão, livro na outra -é, fui acompanhado de um livrinho - encontrei um local para sentar e aguardar a sessão após uns 10 minutos perambulando pela praça de alimentação. Mesa vazia, saí quase correndo.

Acomodado no meu canto percebo na mesa da frente três meninas e um cara. Eles estavam olhando pra mim. A primeira reação e dar aquela olhada e ver se não derrubou nada na roupa, se não está com bigode de chopp, etc. Mergulhei no meu copo e no livro enquanto as pessoas tristes ficavam felizes gastando dinheiro ou simplesmente trocando os presentes natalinos.

Eis que de repente, não mais que de repente, uma das meninas se levanta e vem em direção à minha mesa. Disfarçadamente olhei pro lado tentando ver se não tinha nada atrás de mim. Enquanto ela caminhava em minha direção com um sorriso no rosto pensei "o que tá acontecendo? Ela vai me pedir algo". Dito e feito.

Toda simpática a mocinha de lisos cabelos claros disse: "Oi, você vai usar essas cadeiras?". Respondi que não. "Posso pegar? As duas, tudo bem?" Claro, moça, claro... mas bem que você poderia sentar aqui comigo. Obviamente essa última frase não saiu da garganta e a moça voltou toda formosa para sua mesa com as cadeiras.

Bom, o filme é simplesmente maravilhoso e traz a histótia do livro homônimo de Gabriel Garcia Marquez. Confesso na minha grande ignorância que não li o livro, mas vou ler. Trata-se da história de um amor que se manteve vivo por 53 anos, até que no final o encontro de almas e corpos é consumado. Ah não vou contar aqui não. Mas vale muito a pena assistir. Bom filme pra vocês.

26.12.07

Vamos ao Cinema?

Ah que sorte! Ele ganhou um par de ingressos para assistir um filme que estava muito a fim de assistir. E quem não gosta de cinema? Ele gostava de ir ao cinema, mas fazia tempo que não ia. Geralmente ia sozinho - quase sempre - e no meio da semana. As salas cheias de adolescentes comendo pipoca e falando alto o irritavam.

"Every night when everybody has fun, Here am I sitting all on my own, It won't be long yeah, yeah, yeah"

O filme era um musical, não era muito fã de musicais - só do Hair, mas esse era um clássico 'bicho-grilo'. Os ingressos que ganhou eram para o filme que trazia algumas das melhores músicas do século XX, clássicos do Rock n' Roll. Quando recebeu os ingressos, só um rosto apareceu em sua mente. Só um nome surgiu em sua boca. Era mais do que óbvio, há tempos aquele rosto e aquele nome eram uma constante no seu dia-a-dia.

"Had it been another day I might have looked the other ways and, I’d have never been aware but as it is I’ll dream of her tonight"

O convite foi feito, mas a resposta já era esperada. As coisas já não eram mais como tempos atrás. Aliás, não houve efetivamente uma resposta, apenas um silêncio. Mas era uma resposta clara.

"Oh yeah, I'll tell you something, I think you'll understand. When I'll say that something I wanna hold your hand"

O filme? Saiu de cartaz. Todo mundo sabe que é sempre assim. O filme estréia, fica um tempo e depois sai de cartaz. Toda sessão acaba, todo filme sai de cartaz. Mais rápido ainda se não tem ninguém pra assistir. O seu filme só tinha um espectador. Guardou de lembrança os ingressos do filme que não assistiram.

25.12.07

Primavera e Outono

Naquela manhã ela acordou e sorriu ainda antes de abrir os olhos. Uma energia corria por todo seu corpo como há muito não sentia. Foi para a janela e abriu as duas folhas convidando o mundo para entrar ali. Era Primavera dentro dela. No calendário ela mal sabia em que mês estava. Não importava. O importante é que era Primavera dentro dela.

Ela abriu a janela e o vento ainda frio da manhã agitou seus cabelos. Sentiu os primeiros raios de sol tocarem seu rosto e o calor correr por todo seu corpo. Era como se estivesse em seu sangue. O céu estava pintado de um azul que doía os olhos, mas lindo mesmo assim. Voltou correndo pra cama e abraçou o travesseiro. Permaneceu assim alguns segundos. Ainda abraçada, levantou-se e voltou para a janela. O mundo tinha novas cores, nova vida. Foi Primavera dentro dela.

Hoje acordou e lembrou-se daquela manhã como se fosse há anos atrás. Vidas atrás. Mal abriu os olhos e eles marejaram. Sentiu arderem e o gosto salgado na garganta. Mesmo assim não chorou. Levantou-se e foi em direção da janela. Abriu-a devagar, quase com medo, como se esperasse um súbito golpe ou dedos apontados para seu rosto, rindo de seus olhos vermelhos. O vento que veio de encontro ao seu rosto era seco e lhe deu a sensação de trazer agulhas ou cacos de vidro. Seus olhos secaram, seus lábios também.

Ficou alguns instantes ali parada, olhando pela janela o céu e a vida que agora lhe pareciam murchos. Em sua mente foi repassando cenas, diálogos, mensagens, momentos... Mas agora eles tinham a cor de uma fotografia velha, sépia, como se há muito estivesse esquecida num baú velho. O sol ela sabia que brilhava em outros rostos agora e aquecia outros corpos. Nesta manhã foi Outono dentro dela.

24.12.07

Vazio

Véspera de Natal, fui dar uma volta no centro da cidade. Eu gosto de andar no centro em feriado ou aos domingos. Gosto das ruas vazias, apesar que não deu muito certo hoje. Mesmo indo já por volta das 17h00 algumas lojas ainda estavam abertas e, portanto, havia movimento nas ruas. Mas logo esvaziaram. Fui ao Parque Celso Daniel ler o livro que a Paula me emprestou - obrigado Paulete pelo "Pequenas Epifanias" - e fiquei lá, sentindo o vento.

Como disse, gosto das ruas vazias. Com as ruas vazias você pode andar com mais calma, observar tudo ao redor, predios, lugares, e até mesmo as poucas pessoas que cruzam seu caminho. Sem correria, sem pressa. Eu gosto de lugares vazios.

Eu gosto de praia vazia, por exemplo. Adoro ir pra uma praia vazia, que só tenha meia-dúzia andando pra lá e pra cá, ou alguns tomando sol. Detesto ir pra Praia Grande, Santos e afins - Dona Carol Sena Masuda, nada pessoal contra sua cidade natal. Prefiro uma praia vazia, ou com poucas pessoas.

Claro que têm lugares que são melhores quando estão cheios. Baladas por exemplo. Mas cheio, não lotado. Será fobia de pessoas? Fobia de gente? Detesto shopping, mesmo quando está vazio.

Talvez morar sozinho há tanto tempo também contribua pra isso. Mas há aquele momento que é preferível estar com pessoas. Ou melhor, há 'aquele' momento, 'naquele' lugar, com 'aquela' pessoa.

Mas 'aquele' lugar está vazio. 'Aquele' momento é só um devaneio. Está tudo vazio.

22.12.07

A Última Estação

Já era tarde da noite quando pegaram o trem. A viagem era longa da estação em que estavam até onde deveriam descer. Devido ao horário, poucas pessoas estavam no trem. Entraram no primeiro vagão e se sentaram no último banco. Ele a abraçou e ela apoiou a cabeça em seu peito. Ficaram assim por algum tempo até que ela ergueu o rosto e lhe deu um beijo na boca.

Eram beijos lentos, demorados, intensos. As línguas se movimentavam como em um balé e assim como ela mordia a língua dele, ele mordia seu lábio inferior. As mãos dos dois se entrelaçavam e percorriam o corpo alheio. Enquanto a beijava ele abriu dois botões de sua blusinha. Seu sutiã preto ficou à mostra e parte de seus seios. Ela segurou a blusa e assustada olhou para a outra extremidade do vagão. Havia apenas um homem sentado em um banco, cochilando. Ela deu um leve sorriso para ele e abriu a blusa.

Ela começou a morder seu pescoço, mordia, passava a lingua e assoprava. Ela sentia que isso fazia ele se arrepiar todo e ela gostava dessa sensação. Ele soltou seu sutiã e sua mão passeou por seus seios. Adorou ver a cara de tesão e o suspiro que ela deu quando apertou levemente seu mamilo. O trem parou na estação. Por alguns segundos os dois tiveram que se recompor. Mas ninguém entrou no vagão e o outro passageiro continuava dormindo.

Mal o trem fechou as portas e eles voltaram a se beijar. Os dois se balançavam conforme a velocidade do trem aumentava. Pela janela só conseguiam ver os rastros das luzes ao longe, passando rápido, como se acelerassem à medida que o tesão dos dois crescia. O sangue corria em suas veias com a mesma rapidez que as luzes na janela. Enquanto acariciava seu mamilo esquerdo, sua boca foi de encontro ao direito. Com os dedos entre seus cabelos, ela segurava firme a cabeça dele de encontro ao seu peito. Cada vez que ela sentia seus dentes no mamilo ela forçava mais sua cabeça.

Com um puxão forte ela o tirou daquela posição e lhe deu um beijo na boca. A mordida que ela lhe deu deixou seu lábio inferior latejando. Os dois estavam loucos e talvez nem conseguissem parar se de repente aparecesse alguém ali. "Eu quero chupar você". Sem hesitar ela abriu a calça dele e começou a chupá-lo ali, agachada no banco do trem. Trem, luz, estação, passageiro... ele já não conseguia ver nada disso. A única coisa que ele via era ela com aquele olhar cheio de malícia e tesão. Só aqueles olhos eram suficientes para deixá-lo fora de si.

“Estação terminal, a CPTM deseja a todos uma boa noite”, ouviram a voz intrusa que saia dos auto-falantes dentro do vagão. Segurando com força ele puxou-a para cima e lhe beijou a boca intensamente. Ela deu uma leve risada quando percebeu que o passageiro dorminhoco não estava mais no vagão. “O que será que ele viu?” – disse enquanto fechava sua blusa.

Se arrumaram e desceram do vagão. Era a última estação.

16.12.07

Na Correnteza

Avistou muitas flores bonitas enquanto caminhava pela trilha. O cheiro da terra e do mato entravam em seu corpo como um bálsamo. Sentia alegria por estar ali. Era apenas uma trilha, já esteve em outras, mas as trilhas nunca são iguais, nunca. Conforme entrava cada vez mais na mata fechada, uma euforia ia crescendo em seu peito e incentivava a continuar a marcha.

Sentiu o cheiro de água. "É uma cachoeira", pensou. Logo começou a ouvir o murmúrio das águas e avistou borboletas de um azul roial fascinante. Sempre há dessas perto de cachoerias. Continuou pela trilha, a empolgação aumentou por imaginar o que estava à frente. Finalmente avistou o céu claro e a queda que formava um caudaloso rio. Parou e observou por alguns instantes a maravilha que se mostrava à seus olhos. Cachoeiras são sempre fascinantes.

Não teve tempo de se segurar quando o chão da margem cedeu. Caiu na forte correnteza e desesperadamente começou a se debater na tentativa de manter-se acima das águas. A correnteza era forte e impiedosa, seu corpo era arrastado como uma folha seca de um lado para outro. Com o desespero, começou a engolir a água e percebeu que estava perdendo suas forças.

Era uma luta e tanto ir contra a correnteza. Não adiantava esticar seus braços, não havia onde se agarrar. Sua roupa pesava e dificultava sua situação. Parou de lutar. Pensou que a única coisa que poderia fazer era deixar seu corpo seguir o curso do rio. Lembrou-se da trilha, da margem, e do escorregão para dentro da água.

Parou de se debater. Ergueu a cabeça e respirou fundo. Abriu os braços e começou a boiar olhando o céu claro que se mostrava acima. Sentiu uma calma imensa e deixou seus membros relaxados. "Vou deixar levar". Uma borboleta azul acompanhava seu passeio rio abaixo.

15.12.07

Zahir

Ela o avistou chegando ao longe. Era fácil identificá-lo. Não que ele se sobressaisse fisicamente, não, não tinha nenhum atrativo especial, era apenas mais um na multidão. Não para ela. O que era aquilo que o distinguia ela não sabia dizer, só sentir.

Com o mesmo sorriso tímido mas olhando-a fixamente nos olhos ele aproximou-se. Ela se levantou e o beijou do lado direito do rosto, do mesmo modo como adorava fazer, bem devagar e deixando que seus lábios encostassem levemente no canto da boca dele. Ela adorava essa brincadeira e sabia que isso o deixava um pouco desnorteado.

Os dois sentaram-se e começaram a beber. Era só mais um encontro num sábado à tarde em um barzinho, não era um encontro romântico. No fundo, os dois sabiam que tudo que eles faziam era romântico. Mas de todo modo bem informal e descontraído. A mesa localizada na área externa do bar fazia com que os dois fossem acariciados pelo vento forte daquela tarde. O vento que passava pelos longos cabelos negros dela trazia o seu perfume até ele. "Ela está usando o 'Ops!'". Nesses momentos ele respirava fundo e sentia como se estivessem abraçados.

- Andei pensando muito sobre você esses dias, falou sem olhar para ele, tentando equilibrar o copo cheio em cima da mesa.
- Ah é? Pensando exatamente o quê?
- Descobri uma palavra pra definir você.
- Mas definições em apenas uma palavra geralmente não conseguem englobar a totalidade de alguém.
- É claro, seu bobo, mas é uma definição de uma parte importante pra mim.
- E qual é?
- Zahir.
- Zahir? Isso não é o nome de um livro?
- É sim, é que eu li a respeito e a definição da palavra se encaixou perfeitamente em você.
- Vou contar pros seus amigos intelectuais que você anda lendo esse cara - os dois riram da provocação.
- Você já leu as Valkirias que eu sei - ela retrucou fazendo uma careta.
- Mas afinal o que é Zahir?
- Ah esse é o seu dever de casa. Depois você procura o que significa essa palavra.

Ela sabia que ele era curioso e assim que chegasse em casa iria procurar o tal Zahir. Beberam mais alguns copos, falaram de amenidades, se provocaram de forma sutil, como há tempos os dois costumavam fazer. Na despedida o mesmo beijo que queria dizer tanta coisa - eles sabiam disso - e um abraço apertado.

Assim que chegou em casa ele ligou o computador e foi procurar o que era o Zahir. Leu a definição e sentiu um calor enrubescer seu rosto. Pegou o telefone e ligou para a casa dela.

- Oi, descobri.
- Uhm e o que achou?
- Descobri que você também é o meu Zahir.

14.12.07

Quarto de Dormir

"Um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois
e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for
bem abraçada no lençol da cama vai chorar por nós
pensando no escuro ter ouvido o som da minha voz
vai acariciar seu próprio corpo e na imaginação
fazer de conta que a sua agora é a minha mão
mas eu não vou saber de nada do que você vai sentir
sozinha no seu quarto de dormir.

No cine-pensamento eu também tento reconstituir
as coisas que um dia você disse pra me seduzir
enquanto na janela espero a chuva que não quer cair
o vento traz o riso seu que sempre me fazia rir
e o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si
até toda memória dessa nossa estória se extinguir
e você nunca vai saber de nada do que eu senti
sozinho no meu quarto de dormir."

- Arnaldo Antunes / Marcelo Jeneci -


Arnaldo Antunes. Não tenho nem o que comentar. Letra linda, triste mas linda.

12.12.07

Vinho Barato

Encheu o copo com o vinho que tinha acabado de comprar e deu um sorriso irônico. "Vinho barato em um copo barato, como você é um cara sofisticado, não?!". Ligou o rádio e foi bem na hora do refrão: "Now he's too old to Rock n' Roll, but he's too young to die...". Deu uma gargalhada áspera. Ele também se sentia velho demais para muitas coisas, mas nunca havia se sentido tão velho quanto ultimamente.

Serviu-se de mais um gole e desligou o rádio. Ficou imóvel, sentado e segurando o copo cheio na mesa. Olhou para o lado e viu a foto dos dois que estava à mostra. Lembrou-se dos sinais que recebeu, dos sinais que enviou e perguntou-se onde foi que ele entendeu errado. "Ah eu te avisei várias vezes, controle-se! Você achou que tinha espaço suficiente para se deixar levar, agora sai dessa." Olhou para a tv desligada e sua imagem apareceu refletida, encarando-o de frente, como se fosse uma outra pessoa.

Os olhos que o fitavam mostravam desprezo e escárnio. Por um instante se assustou, achou que realmente fosse outra pessoa que o encarava. Mas não conseguiu desviar o olhar e continuou ali, parado e encarando aquela imagem que parecia tão diferente de si mesmo. Lembrou-se de Dorian Gray vendo seus pecados refletidos na pintura. "Que presunção".

Ergueu o copo e fez uma saudação a Baco. Agradeceu por saborear o vinho - e suas consequências. Mas lamentou-se por ter se embriagado rápido demais.

Dedicatória

Sem levantar da cama ela fechou o livro e o colocou ao lado. Se acomodou sob os lençóis mas percebeu que não conseguiria dormir. Esticou seu braço dolorido pela posição que estava e pegou o livro novamente. Não abriu onde tinha parado, mas sim na primeira folha. Leu a dedicatória como se ouvisse a voz dele sussurando em seu ouvido. Ela gostava de ouví-lo assim, quase grudado nela, sentindo o calor de sua respiração em seu ouvido, em seu pescoço.

Parou na metade da mensagem, encostou o livro no peito e suspirou profundamente. Havia um pesar nesse ato. O ar entrava e saia de seus pulmões carregado de sentimentos que ela não conseguia nomear, nem colocar em ordem. Fez força para erguer o livro novamente como se erguesse uma caixa grande e pesada, cheia de seus sentimentos, seus desejos e seus medos.

Chegou ao final do pequeno texto que ele escreveu e leu as últimas palavras em voz alta, "Um Abraço". Novamente o peso do livro se fez sentir sobre seu peito. Era como se aquele monte de folhas pesasse como o corpo dele. Com os olhos fechados ela abraçou o livro tentando sentir o cheiro de quem escreveu aquilo. Era ali que ela sentia mais a sua falta, naquele abraço.

11.12.07

Trilha Sonora

Minha vida tem trilha sonora. E é um álbum triplo, quádruplo talvez.
Desde muito cedo eu estive envolvido com música.

Eu sempre precisei de uma música para expressar tudo aquilo que eu não consigo dizer, escrever, mas que sinto. Coisas boas, ruins, animadas ou tristes. E como eu tenho uma memória péssima, as músicas acabam servindo de apoio para minhas lembranças. E mesmo assim esqueço, não por maldade ou desprezo, simplesmente não lembro de coisas.

Eu elejo trilhas sonoras. Tanto para os momentos bons quanto para os ruins. E algumas músicas acabam sendo usadas mais de uma vez para momentos distintos ou para situações diferentes. Algumas trazem apenas lembranças difusas de momentos da infância, como enquanto ouvia rádio na cozinha enquanto minha mãe fazia algo. “Voyage Voyage”, da Desireless, por exemplo. É engraçado até hoje eu ir a baladas góticas / anos 80 e ouvir essa música.

“Rebellion in Dreamland” do Gamma Ray, me lembra uma das primeiras viagens pra Andradas, com meus camaradas Valdir e Pantcho. Quatro horas ouvindo praticamente a mesma música e cantando alto dentro de uma Kombi branca. Demais... rs

Tem algumas que marcam mais, dependendo da relação delas com determinado fato, ou pessoa. Às vezes me perco no que são lembranças e no que são apenas imaginações. Mas o importante é que elas estão sempre lá, as minhas trilhas sonoras.

Tanto nos momentos bons quanto nos ruins, nos lembrados e nos imaginados. A lista é grande e às vezes não é a letra em si, mas o clima da música. Alegre ou triste. É verdade, eu confesso que algumas podem parecer até meio brega, mas isso acontece em determinados momentos da vida de todo mundo.

É, algumas são até românticas, outras não tem nada a ver com isso. Algumas alegres, outras tristes, mas são a minha trilha sonora, com momentos bons e, às vezes, nem tanto. São tantas e colocá-las aqui seria até cansativo. Mas algumas são “Soldier Of Fortune” (Deep Purple), “My Wine in Silence” (My Dying Bride), “Love You Like I Do” (H.I.M.), “Gone With the Sin” (H.I.M.), “She’s a Rainbow” (Rolling Stones), “Only When I Sleep” (The Corrs), “Spirit of the Sea” (Blackmore’s Night), “How Soon is Now?” (Smiths), “Interlude” (Morrissey), “Battle Hymn” (Manowar), Arnaldo Antunes, Helloween, Golpe de Estado, Ramones, Sarah Brightmam…

Tantas coisas, tantas músicas, algumas pessoas...

9.12.07

Rainbow Eyes

She's been gone since yesterday, Oh I didn't care
Never cared for yesterdays, Fancies in the air
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes, Rainbow eyes, Rainbow eyes
Love should be a simple blend, A whispering on the shore
No clever words you can't defend, They lead to never more
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes, Rainbow eyes, Rainbow eyes
Summer nights are colder now, They've taken down the fair
All the lights have died somehow, Or were they ever there?
No sighs or mysteries, She lay golden in the sun
No broken harmonies, But I've lost my way
She had rainbow eyes
- Rainbow -

Clássico gravado pelo Rainbow de Ritchie Blackmore no álbum "Long Live Rock n' Roll", último com Ronnie James Dio no vocal. Esta sempre foi uma das minhas preferidas do Rainbow. Ela tem uma tristeza bela, uma melancolia serena. E isso é dificil conseguir, Serenidade.

Parece estranho, 'olhos de arco-íris'? Não, não é não. São como os olhos da Lu, olhos de arco-íris. Azuis ou verdes? Olhos de arco-íris. Lindos. Um beijo pra você Lu!

Eco

O eco é um fenômeno que ocorre quando um som é emitido, encontra uma barreira e volta ao emissor.

Às vezes emitimos um som, ou um sinal, e parece que há um eco. Ele volta pra você, o vento o traz de volta e isso pode fascinar. Mas o que você recebe no eco é apenas aquilo mesmo que você enviou. Você pode achar que é algo novo, que é uma resposta, mas não é.

O eco é como a imagem no espelho. Narciso fascinado com sua própria imagem no lago. Aliás, o lago em que Narciso se viu e se apaixonou é chamado Lago de Eco, e Eco é o nome de uma ninfa que se apaixonou pelo belo rapaz, segundo uma das versões do mito.

O vento leva suas mensagens e traz outras, mas também traz o eco, que é só uma ilusão.

7.12.07

As Cerejas

O velho Sanctuarium anda enveredando por caminhos demasiadamente viajantes. Vou trazê-lo de volta à Terra. Ele anda muito nas nuvens...

No dia 24 de novembro eu fui fazer a cobertura da oitava edição do São Paulo Mix Festival, o show promovido pela rádio Mix FM, que aliás eu nunca fui ouvinte. O show foi no Arena Skol Anhembi, uma puta infra-estrutura, sala de imprensa com computadores, freezer cheio de refri - faltou cerveja - mesa com frutas e salgados. Tudo muito bom.
Os shows foram o menos interessante, já que não tinha nada ali que eu gostasse muito. Tá, tudo bem, eu sempre gostei de Capital Inicial, mas antes dessa fase 'banda de menininha' e também gosto da Pitty... uhm a Pitty... Mas a balada valeu mais pela animação na sala de imprensa. Muita gente pra pouco espaço e ainda conheci um pessoal muito bacana.
Engraçado foi que enquanto estava tentando achar a entrada de imprensa encontrei um casal na mesma situação que eu e - coincidências estranhas - a menina eu já conhecia do orkut. Fazemos parte de umas comunidades de fotografia e ela é de Santo André. Estava lá com o namorado, muito gente boa também.

Ah sobre os shows não vou falar não, quem quiser acesse a resenha que eu fiz. Mas vou falar sobre a Pitty. Todo mundo que conhece como funciona esse mundo da música sabe o que são as 'groupies', as garotas que caçam os caras de bandas e tudo mais. Pois agora eu entendi por que isso acontece. A figura no palco tem uma atração especial.

Não, a Pitty não é um mulherão, aliás é bem baixinha. Nem é tão bonita de rosto também, mas é bonitinha. Ah eu acho todo mundo bonito! Ela tem é uma certa atitude, tem 'algo', além de ser inevitável dizer que é um tesão ver ela no palco. Sem contar que eu confesso que o estilo branquinha de cabelo preto me fascina.
Eu nunca tinha visto um show dela e realmente é muito bacana, muito Rock n' Roll, muito animado. E o guitarrista Martin faz um som legal. Gostei mesmo foram das duas cerejas. É a Pitty tem duas cerejas. Pena que eu não consegui fotografar - nem ver - as cerejinhas dela de perto.

4.12.07

Sobre o Tempo II

Quanto tempo é necessário para algo importante acontecer? Quanto tempo para saber se é importante? Quanto tempo para você perder o controle de algo? Aliás, alguém realmente tem o controle de algo? Quanto tempo andando dentro do labirinto para você estar realmente perdido?

Quanto da diferença de Tempo é muito ou pouco? Quatro meses? Um ano? Cinco? Dez anos? Quanto é possível esperar? Qual o limite da paciência?

Ele está sempre brincando com a gente, o Tempo. Que mudanças o Tempo traz em um mês, por exemplo? Um mês...

28.11.07

O Ponto Sem Retorno

Na entrada do labirinto ele parou e olhou para trás. Há muito tempo que a estrada era apenas uma reta no meio do deserto e raramente aparecia algum vestígio ou sinal de vida. Cinzas de uma fogueira já sem brasas ou galhos secos pela exposição ao tempo. Olhou novamente para o labirinto e se lembrou que ele já tinha estado em um lugar parecido. Sua visão só alcançava até a primeira curva à esquerda e a visão era bonita. Pelas paredes de pedra nasciam flores brancas e azuis. As brancas tinham pintinhas pretas, as azuis brilhavam.

Ele continuou parado na entrada, mas não olhou mais para trás. Onde ele tinha passado ele se lembrava bem. A estrada vazia e um outro labirinto. Mas afastou a lembrança com um leve movimento de cabeça. A lembrança voltava como um aviso luminoso que explode na noite de uma rua chuvosa. O luminoso era vermelho.

À sua frente as flores brilhavam convidativas, e ele quase conseguia ouvir uma voz que o vento trazia. Havia um atalho que contornava o labirinto, tão vasto e vazio quanto a estrada por onde ele tinha vindo. Olhou novamente para a entrada do labirinto e para as flores. Deu um passo e foi como se as flores acendessem e iluminassem tudo. Ele deu outro passo e estava dentro do labirinto. Aquele já era o ponto sem retorno.

21.11.07

Tempestade

Ele olhou pela janela e viu que o céu estava carregado de novo. Fazia tempo que não ficava assim, escuro, carregado. A mesma chuva que ajuda a germinar pode destruir, estranho isso. Mesmo assim ele abriu a janela, deixou o vento bater forte no rosto. “É meu elemento preferido”, pensou ele se referindo ao vento viajante que tudo leva e tudo traz.

A tempestade estava perto, jogando coisas de um lugar para outro, desfolhando árvores. Dava pra sentir os trovões no peito. Mas o céu estava escuro e nem sempre depois da tempestade há um arco-íris. Ele queria muito que houvesse um.


"...On the horizon, dark clouds up ahead, for the storm has just begun..."
* Sailing Ships * Whitesnake *

17.11.07

Interlude

Time is like a dream and now, for a time, you are mine
Let's hold fast to the dream that tastes and sparkles like wine

Who knows (who knows) If it's real
Or just something we're both dreaming of

What seems like an interlude now
Could be the beginning of love

Loving you Is a world that's strange
So much more than my heart can hold

Loving you Makes the whole world change
Loving you, I could not grow old

No, nobody knows When love will end
So till then, sweet friend ...

What seems like an interlude now
Could be the beginning of love

- Morrissey & Siouxsie Sioux -

* Interlúdio, trecho instrumental em uma canção que une duas partes mais importantes da composição. O que seria este interlúdio? Uma ponte, uma ligação entre algo que passou e algo que virá.

Poucas vezes vi um dueto tão interessante. Morrissey, a voz do Smiths, e Siouxsie, a voz do Siouxsie and the Banshees. Se você não conhece essa música, vá atrás. É linda, apesar de melancólica, triste até.

14.11.07

Na Imensidão Branca

Era tão branco, tão delicado e sua textura era tão suave que por alguns instantes nada mais importava. Ele não precisava de mais nada, só precisava e só queria ficar ali, olhando bem de perto. O calor que dali emanava chegava até seus lábios, mesmo sem que ele tocasse. Aquele calor era o seu ar, seu alimento. Ele sentia que entrava em sua pele, em seu sangue, e corria por todo o seu corpo. Era ao mesmo tempo o veneno que o matava e o elixir que lhe trazia vida.

A impressão era de que se ele tocasse poderia macular aquele branco, aquele ar de pureza, de sagrado. O simples toque era cheio de reverência, de respeito e de vontade.

Não existia mais o tempo. Se os minutos passavam ou se o tempo estava congelado não fazia diferença. Assim como não importava o que se passava com o mundo que girava ao redor. Existia um outro mundo? Existia algo além daquele branco e daquele calor?

Ele abriu os olhos e viu que existia e eram duas pequenas marcas escuras na imensidão daquele branco.

10.11.07

Mar Amar Amarelo

* Mar

Amar
Amarelo *

31.10.07

A Janela



“Da janela lateral, do quarto de dormir...”
Não, não. Eu gosto de Beto Guedes mas não é sobre isso que eu vou escrever. Quero falar é da janela pela qual eu olho todo dia, o dia todo. É aquela bem em frente ao meu micro. Dizem que os olhos são as janelas da alma, mas e a minha janela, é o quê? A janela é minha ligação com o mundo real. É por ela que eu vejo o mundo se movimentar.

Ela fica quase na esquina, mas mesmo assim eu não tenho uma visão ampla. Mas dá para eu ver carros passando, pessoas andando... tem pessoas que passam sempre no mesmo horário. Devem estar indo, ou voltando, de algum compromisso. Emprego talvez. Tem uma senhora, velhinha, que todo dia passa aqui. Ela tem dificuldades para andar e só se locomove com o auxílio de uma bengala. Às vezes é um andador mesmo. Para onde essa senhora vai, quase todo dia, com essa dificuldade de andar? Chega a dar uma certa angústia ficar aqui, no meu camarote, assistindo a luta dela para subir a rua íngreme.

Também tem um casal, mãe e filho, que trabalham vendendo material reciclável. Papel, vidro, plástico, alumínio. Eu sempre guardo algo aqui pra dar pra eles. Todo dia é a mesma coisa: lá estão os dois, às 5h30 da manhã – essa hora não estou acordado, mas quando eu saia esse horário para trabalhar, encontrava os dois – procurando pelas lixeiras algum material que possa render uns centavos. Eles enchem o carrinho umas três ou quatro vezes. Quando acabam, a senhora passa aqui em frente com um saquinho com pães.

Tem os momentos de voyerismo também, como não? Tem uma ‘vizinha de bairro’, uhm... magra, deve ter 1,70m, pele branquinha, com um cabelão comprido, liso e negro. Ela sempre passa aqui pela manhã, acho que vai até a padaria. Aparenta ter uns 24, 25 anos, ela tem uma tatuagem na cintura, atrás, do lado direito, que fica a mostra no espaço entre a blusinha e a calça. Ainda não consegui decifrar o que é. Preciso ficar mais atento na minha observação.

Essas pessoas estão em todo lugar. Mas foi preciso que eu as enquadrasse em minha janela para poder prestar atenção nelas e imaginar quem elas são, suas vidas, seus porquês.

She's a Rainbow

She comes in colors everywhere She combs her hair She's like a rainbow Coming colors in the air Oh everywhere She comes in colors

Have you seen her dressed in blue See the sky in front of you And her face is like a sail Speck of white so fair and pale Have you seen the lady fairer

Have you seen her all in gold Like a queen in days of old She shoots colors all around Like a sunset going down Have you seen the lady fairer

She comes in colors everywhere She combs her hair She's like a rainbow Coming colors in the air Oh, everywhere She comes in colors

Como eu não tenho nada pra escrever, vou falar sobre esse clássico dos Rolling Stones, "She's a Rainbow". Essa música foi lançada no "Their Satanic Majesties Request", de 1967. Quando eu ouço essa música me dá uma sensação estranha. Ela tem uma letra bobinha, mas de certa forma apaixonada, "Ela é como um arco-íris, Trazendo cores no ar..."

Essa é uma das músicas que eu ouço e me sinto bem, mesmo quando não estou lá muito animado. O instrumental tem 'cara' de anos 60, de Flower-Power. E traz um Rolling Stones ainda bem influenciado pelos amigos Lennon e MacCartney. Ela me faz pensar nos meus arco-íris, os que eu vi, que apareceram depois das chuvas fortes, e aqueles que eu imagino que podem aparecer enquanto o céu está escuro, carregado, e o vento forte bate no meu rosto. Eu gosto disso.

28.10.07

Sobrar

do latim superare - Verbo Intransitivo

Ser demais; sobejar, restar; ser mais do que suficiente. Ficar de fora (King Host)

Exceder; sobejar; restar; estar proeminente; ter em excesso; ter mais que o suficiente. (Priberam)

Haver mais do que o necessário; exceder (Michaelis)

Sobrando

6.10.07

Minha nova amiga, Malagueta


Essa é a Eduarda, também conhecida como 'Malagueta' ou 'Pimentinha'. É minha nova amiga.
Ela é uma das crianças que fazem parte do projeto Amigão, que desenvolve atividades com crianças carentes no bairro Jd. Santo André, aqui em Santo André. É um bairro imenso e muito pobre. Eu e alguns amigos da faculdade estamos montando um jornal comunitário no bairro, vamos ver o que vai dar.
É, esse texto não tem nada com nada, só porque eu queria publicar a foto da Malagueta, mesmo sabendo que ela e os amiguinhos dela dificilmente vão ver isso aqui. Não enquanto as coisas não mudarem na vida dessas pessoas. Que pelo menos eles tenham noção que é preciso mudar e que existem meios para isso. Quais eu também vou descobrir.

27.9.07

Efeito do Tempo - por Lilian Milena

Gostei, roubei, publiquei:

"Neste instante sinto vontade de me agarrar a qualquer pedaço de crença que me faça resistir. Não me faço mais um poço, mas sim um grande buraco com mais largura do que profundidade. Rasa! É assim que me sinto. Se me perguntarem, não saberei responder. Se me perguntarem, eu saberei dizer. Se me olharem, saberei retribuir. Quando me desafiarem, rogarei pragas, porque hoje sei que existem bruxas. Coisas de mulher.

No entanto, por tudo o que senti nesses últimos dias, vejo, quase claramente, que no lugar das pedras existem pedras. Elas são grandes, e belas, arredondadas e me chamam para marchar sobre. Num tom de deboche, por permitir que meus dedos descrevam o óbvio, meus pensamentos me dizem que algo novo bate nesta porta. Um Novo, com um laço grande pronto para ser cortado e queimado em oferenda, com perfume leve de sândalo.

Dou mais um passo para fora de minha velha casa porque preciso entender o que existe lá fora. É nesse instante em que eu verei o que quiser e sentirei vontade de me agarrar a qualquer mestre. Sete horas depois voltarei para dentro sentindo vontade de que alguém me prove o que vi e senti. E por que alguém? Não sei.

- Lilian Milena -

23.9.07

Eu não sei dizer...


Às vezes saio com minha câmera e vejo essas cenas. Clico, claro. Mas depois eu penso de que adianta eu fazer isso. Será uma simples atração pela desgraça alheia? Que diferença faz essa foto publicada em mais um dos milhares - milhões? - de weblogs por aí? Será que isso é a reprodução do que dizem sobre jornalistas, que são todos urubus procurando pela carniça?
Ou será que essa inquietação ao ver a foto na verdade é porque, se pararmos para pensar, isso é uma situação extremamente horrível, que incomoda pelo simples fatos de sermos humanos?
Eu não sei dizer. Eu só quero mostrar.

5.9.07

Confissões por R$ 2,30

"Mas aí não quis mais não! Desde o começo eu falei pra ele 'se você largar sua mulher, eu largo de você', e foi o que eu fiz né?"
"Ah é, e quanto tempo vocês ficaram juntos?"
"Quase um ano. Quando eu conheci ele, me contou que era apaixonado pela esposa e depois vem com esse papo de que o casamento não tá indo bem? Eu não quero não. Você sabe, eu pelo menos, gosto tanto quanto vocês, sabe né...? Mas eu não quero namorar um homem desse não".

Esse diálogo edificante eu ouvi agora a noite no ônibus, enquanto voltava do SESC, onde fui fazer uma reportagem. Por favor, não digam que eu fui indelicado, na verdade eu era o único passageiro do ônibus, além da moça que contava ao motorista suas peripécias como parte de um adultério, então não tinha como não ouvir a história.

E ela contava com todo conhecimento de causa, defendendo seu ponto de vista e sua condição de 'outra'. Interessante perceber a indignação da moça só de pensar em namorar 'um homem desse', como ela disse.

Claro, onde já se viu? Ela, que só quer ser a outra, namorar um homem que ela tem certeza que trai a esposa?! De jeito nenhum! Ela quer um homem honesto, fiel. Até que a morte os separe.

Em que outro lugar você pode conhecer os segredos humanos por apenas R$ 2,30?

29.8.07

Eu vi um Beijo

Eu vi.
Mas não parecia um beijo qualquer, me pareceu "O BEIJO".
Estava no Parque Celso Daniel com duas amigas - a minha câmera e uma cerveja long neck - só ali observando as pessoas que vão para o parque para serem observadas.
Então me chamou a atenção uma certa movimentação que envolvia um garoto e três meninas. Duas delas estavam com camisetas e bermudas de ginástica, de lycra, nylon, ou algo assim. A outra era uma loirinha, menor que as outras duas, que aparentava uns 11 ou 12 anos. E o garoto também devia ter essa idade.
Os dois estavam visivelmente constrangidos, enquanto as duas maiores estavam eufóricas e incentivavam o jovem casal.
Saindo da movimentação típica de um parque no sábado à tarde, o casal foi procurar um local mais reservado.
Encontraram um cantinho ao lado do banheiro masculino. Que lugar para ser lembrado na posteridade hein!? Ao lado do banheiro público de um parque.
Pois bem, só vi quando o garoto colocou as mãos nas costas da loirinha, isso depois de ficar parado olhando para a cara dela uns segundos que pareceram eternos. Até pra mim!
E eis que o ato se consumou.
Se eles ouviram sinos eu não sei, mas eu ouvi um cachorro latindo e umas crianças que passavam correndo ao meu lado.
A cena quase onírica durou apenas alguns segundos.
Logo as duas outras amigas apareceram pulando e gritando. Serviço feito.

O primeiro beijo geralmente é assim, não? Lugares estranhos, esquemas armados por terceiros, aquele misto de medo, vergonha e vontade. Lembrei do meu e fui fazer umas pesquisas no orkut. Achei.

Será que eu poderia repetir agora, tantos anos depois?

25.8.07

Blaaarrggh

"Engorda porque já não cabe em si
E aumenta quando senta ao vão do vime"
- "No Entanto" - Golpe de Estado -

Sexta-feira - aliás pelo horário já é sábado.
E eu aqui na frente dessa merda de micro reclamando da vida.
Eu sei que é ridiculo, me desculpem as três pessoas que acessam o Sanctuarium.

Puta de um calor, lua brilhando lá fora, a Terra girando, o povo bebendo, fumando, bebendo, transando, bebendo, ficando louco, bebendo, beijando, não necessariamente nessa ordem, etc...

Papinho cretino, parece que eu tenho 15 anos...

21.8.07

Rock You Like a Hurricane - Scorpions, 14/08

Pensei em fazer uma resenha igual as que eu escrevo pro Território da Música, mas não vou escrever aqui como 'jornalista' e sim como fã mesmo.
O Scorpions foi a primeira banda internacional que eu assisti ao vivo, isso em 1994, no extinto Olympia. Lembro que tinha 15 anos e passei um puta medo porque não sabia chegar no local. Mas passou e foi maravilhoso.
Agora eu estava novamente com aquele frio na barriga que eu sempre sinto quando vou num show, e pra ver o Scorpions pela terceira vez. E o melhor, agora como fotógrafo!
Munido com minha credencial entrei no Credicard e comecei a observar o público. É incrível como o Rock 'n' Roll consegue juntar públicos tão diferentes em vários sentidos. Pessoas mais simples com outras de aparência sofisticada. Senhores e senhoras com mais de 50 anos ao lado de adolescentes de 15 anos. Camisetas de bandas clássicas como Beatles e Uriah Heep ao lado de Slipknot.
Depois de uma hora de atraso começou a tocar a vinheta que encerra o novo álbum, "Humanity: Hour I", um ótimo disco e um dos mais pesados do grupo. Logo em seguida o grupo entra no palco com "Hour I". Uma porrada! Legal perceber que boa parte da platéia conhecia a música e cantava as letras. Viva a internet e a troca de músicas!
A segunda música foi "Bad Boys Running Wild" e já remetou todos ao disco de maior sucesso do grupo, "Love At First Sting". Deste álbum ainda apresentaram "Rock You Like a Hurricane", "Big City Night" e , claro, "Still Loving You".
Difícil destacar algum momento. Mas particularmente fui ao delírio com a dobradinha "Always Somewhere" e "Holiday", as duas do disco "Lovedrive", de 1978. Emocionante ouvir as 7 mil pessoas no local cantando junto com Klaus Meine!
Aliás, por falar no vocalista, toda a banda está em sua melhor forma! Rudolf Schenker pula o tempo todo - e já é um senhor de quase 60 anos - além de fazer caras e poses para os fotógrafos. Mathias Jabs é mais quieto no palco mas mesmo assim muito simpático. Os dois integrantes mais novos, Pawel Maciwoda (baixo) e James Kottak (bateria) dão um peso extra aos poderosos riffs de Schenker e Jabs.
A sucessão de clássicos contou com "The Zoo", "Dynamite", "Wind of Change", "Blackout", "Send Me An Angel" e "Coast to Coast", entre outras.
Tenho que confessar que é um pouco difícil ficar ali, grudado no palco e lembrar que não posso ficar cantando, mas sim tirando fotos. Parece besteira, mas ficar tão perto de uma banda que você admira é muito emocionante!
Bom, no final, o que dizer? Foi muito bom! Isso é Rock n' Roll!
Veja algumas fotos do show na minha página de fotos:
Post Scriptum: Thaína e Lilian, essa é pra vocês!

20.8.07

- Feito Gente - Walter Franco -

"Feito gente, feito fase, eu te amei como pude
fui inteiro, fui metade, eu te amei como pude
Fui a faca e a ferida, eu te amei como pude
feito bicho que se espanta, eu te amei como pude
quando chega a morte à vida

Feito lixo que se queima, eu te amei como pude
feito chama quando arde, eu te amei como pude

Fui capacho, já fui lama, eu te amei como pude
fui herói, fui covarde, eu te amei como pude
Feito a noite, cedo ou tarde, eu te amei como pude
dói no corpo e mói a alma

Feito água, feito vinho, eu te amei como pude
feito mágua, feito espinho, eu te amei como pude

Fui o poço, pensamento, eu te amei como pude
fui a calma e a revolta, eu te amei como pude
Fui a vela, fui o vento, eu te amei como pude
a partida, fui a volta

Eu te amei como pude,
Eu te amei como pude..."


Walter Franco, um dos caras mais inteligentes da música brasileira e com certeza um dos mais injustiçados.
Mais de 30 anos após o lançamento deste álbum ele continua sendo inovador, espantoso e até estranho.
Coloquei essa letra aí porque, além de gostar muito das músicas de Walter Franco, ela diz muita coisa em uma frase só: "Eu te amei como pude".

5.8.07

"Parecia um conto..."

Ela deu risada ao lembrar daquelas cenas. "Parecia um conto", ela disse baixinho enquanto se encolhia e apertava o travesseiro.

Parecia um conto, mas não era um conto tão extremo de perversidade e crueldade como os contos que ela adorava ler. Contos que o Marquês escrevera em sua vida marcada por prisões e sanatórios. Ah o perverso Sade...

Sua história era muito mais simples, mas até tinha algo de crueldade. E ela apertou os pulsos um pouco doloridos e ainda marcados pelas algemas. Mas não foi dor o que a fez morder os lábios suavemente.

Ela esticou o braço e ligou o som: "I love your skin, oh so white. I Love your touch, cold as ice..." A própria música já era motivo para seu corpo tremer. Ela lembrou como ele pronunciava algumas frases da música em seu ouvido enquanto seu corpo pesava sobre o dela. "Oh, my baby, how beautiful you are... Gone with the sin my darling, and beautiful you are..."

O quarto ainda estava impregnado com o aroma do incenso e das velas que ela mesma levou. Um sorriso largo veio com a lembrança dele amarrado na cama e o gel da vela escorrendo em seu peito. Ela também sabia ser má.

"I worship your lips, once red as wine..." Sim, ela sabia que ele idolatrava seus lábios vermelhos. Todos os lábios, todos vermelhos, todo seu corpo. Soltou um suspiro confiante por se sentir amada e desejada.

Agora ela vivia um conto.

2.8.07

Já foi bom...

Sexta-feira passada assisti mais uma apresentação dos Titãs.

Banda formada em São Paulo no início da década de 80, fez muito sucesso com músicas que traziam letras fortes, o que não era comum na época. "Cabeça Dinossauro" é provavelmente um dos discos mais pesados que uma banda nacional já lançou. E não estou dizendo 'pesado' levando em consideração a sonoridade, mas sim o conteúdo. "Igreja", "Polícia", "Estado Violência"... está tudo lá.

É um disco crítico sem ser infantil como as bandas Punks da época, que tentavam imitar um movimento que chegou ao Brasil com pouco embasamento intelectual e ideológico.

Após a saída de Arnaldo Antunes as coisas foram mudando. O grupo ainda lançou "Titanomaquia", em 1993, um ótimo disco, que depois a própria banda questionou se aquilo era mesmo Titãs, devido ao peso das músicas.

Depois, "Domingo", "Acústico", etc...

Já assisti os Titãs em quatro ocasiões diferentes. Turnê do "Tudo ao Mesmo Tempo Agora", "Titanomaquia", "Acústico" e este, de sexta passada.

As pessoas mudam, as bandas também. O show foi legal, ainda existe uma certa energia no palco, mas transparece um ar burocrático entre os músicos. Um clima de 'obrigação'. Talvez eles tenham perdido o tesão da coisa.

30.7.07

Personagens

Cada um de nós vive sua história, com suas dores e alegrias. Mas na verdade somos todos personagens. Atuamos nesse palco às vezes de forma inconsciente e esse é o problema. Nascemos, brincamos, crescemos, estudamos, crescemos, trabalhamos, amamos, crescemos, choramos e até sorrimos. Mas será que sabemos o que fazemos? Ou somos só mais uma formiga trabalhadora?
E não estou aqui falando de consciência social, dos problemas do mundo, do aquecimento global... tudo isso tem sua importância, mas se não tivermos a consciência da própria existência, dos segundos que gastamos respirando, não vamos poder fazer nada por ninguém, nem por nós mesmos.
Estar atento ao mundo ao redor, a cada segundo que se passa, a cada ato, a cada ação, sentir o tempo passar e não apenas percebê-lo quando olhamos angustiados para trás.

Tenho que aprender como viver esse papel conscientemente.

21.7.07

Eu não sei dizer...

...eu só quero é mostrar.



A cena da foto acima é comum nas madrugadas frias de Santo André. E de qualquer grande cidade.
Esse homem tentava se aquecer com uma blusa e mais nada.
Assim como ele, outros utilizam as barracas de camelôs, próximas à Estação Ferroviária, no centro de Santo André, como abrigo.
A questão é: se abrigar do quê?

21.6.07

O céu do dia triste

Tem dias que são tristes, não tem?
Não, não estou dizendo os dias que acontece alguma coisa que nos deixa triste. Estou falando sobre os dias que por alguma obra divina - ou não - são tristes na sua essência.

Sabe quando o sol está chegando no horizonte e o céu fica com uma tonalidade rosa, laranja? Pois então, esse é o meu dia triste.

Não sei o porquê. Desde criança, eu me lembro, que essas tardes me traziam vários sentimentos. Primeiro uma preguiça, depois uma ansiedade, um desespero e, por fim, uma deprê pesada. Não sei se isso é devido a alguma alteração atmosférica, alguma conjunção planetária ou algo que o valha.

Algum trauma de infância será? Mas isso vem desde a infância! Só se for trauma de outra encarnação. Carma? Será que eu já morri numa plácida e bucólica tarde com o céu alaranjado?

Ou será que é um sentimento premonitório e, na verdade, eu ainda vou morrer?

8.6.07

"Todas as mulheres são loucas, a começar pela mãe da gente"

Toda mulher é louca, menos minha vó.

Primeiro gostaria de pedir calma as mulheres que por ventura caiam nesse blog. Eu admiro muito as mulheres. Todas elas. A começar pela minha mãe, que sempre me ajudou mesmo quando eu tentava me virar sozinho.

Mas não é sobre isso que eu quero falar.

Essa frase que entitula o texto foi tirada de uma música muito singela da banda Kleiderman, projeto paralelo de Branco Mello e Sérgio Britto, dos Titãs, junto com a baterista Roberta Parisi. Aliás na época desse disco, 1994, a Roberta era lindona. Não sei agora.

Pois então, lindas, sensíveis, gostosas, mas loucas. É inevitável. Mas o 'leque' de tipos de loucas é extenso. E para ser sincero não tenho conhecimento suficiente para escrever um tratado sobre a loucura feminina aqui. Mas conheço uns tipos...

Todo mundo já ouviu alguma garota se referindo ao ex como "o falecido". Essas são perigosas porque demonstram um certo lado 'fêmea fatal', e aqui sem nenhuma conotação sensual ou erótica. É fatal mesmo, pode matar o ex se encontrá-lo. Claro, existem casos que o cara merecia mesmo partir dessa pra outra. Não estou aqui defendendo a classe masculina.

Tem aquela princesa encantada que beija o cara na balada e sai de lá achando que está casada. Não tem muito o que dizer. Carência talvez. Todo mundo é carente meninas, nós também, nós também...

Tem uma louca que não sei como classificar. Louca profetisa? Louca do Apocalipse? Louca pregadora?

Antes era "nunca gostei de alguém como gosto de você", "é óbvio que nossa ligação é algo além do que podemos entender", "nunca consegui dizer isso, mas Eu te Amo". Bonito né?

Depois, com o fim do relacionamento por culpa principalmente dela - e mesmo ela assumindo a culpa - ela vira e diz: "Ele? Ele foi um enviado do Inimigo na minha vida". Aos que não sabem, Inimigo é a nomenclatura utilizada pelos neo-pentecostais para designar o cramulhão, o coisa ruim, o chifrudo, o capeta.

Ai, ai... O que seria de nós, réles mortais masculinos, se não houvessem vocês e suas loucuras para nos enlouquecerem e nos redimirem?

5.6.07

Rosa

Rosa.

Não, o nome dela não é rosa, talvez se fosse ela usaria mais verde. Ou amarelo.
Ela tem dúvidas. (Mas quem não tem?)
Ela tem medo de crescer... eu acho. Não sou psicólogo - apesar de querer muito ter feito psicologia - mas eu vejo isso.
Ela tem é medo de ser mulher. Ela quer apenas ser menina, talvez ainda brincar com uma boneca, escrever em seu diário - mesmo que seja virtual.
Ela desvia o olhar quando a gente olha bem dentro dos olhos dela. Desvia o olhar, abaixa a cabeça e mexe no cabelo.
Ela escreve muito melhor do que a maioria da turma mas tem crises em relação à isso.

Ela usa rosa.

14.4.07

Reencontro

- Boa noite!
- Nossa! Você por aqui?!
- Oras, oras... você bem sabe que eu estou sempre por aqui!
- É que você andou um tempo sem aparecer. Tinha até me esquecido de você.
- Ah, esqueceu nada. Você acha que depois de todo esse tempo eu ia sumir assim, sem mais nem menos? É verdade que eu fiquei um tempinho longe, mas o importante é que agora estou aqui!
- É verdade...
- Agora abra esses braços e diga bem alto: Olá Solidão!

7.4.07

Se eu quiser falar com Deus...

Dizem que recebemos um dom quando somos chamados para esse passeio nesse mundo. Tenho minhas dúvidas se todos recebem... Mas tem pessoas que são abençoadas por certos dons. Aquele que escreve, o que pinta, o que toca. Podemos aprender e desenvolver essas aptidões. Pelo menos é o que se ouve por aí. Basta ter tempo, aprender, treinar, treinar, treinar...

Bom, eu não tive tempo pra treinar. E a vida corre. Em compensação, aqueles que não tem o tal dom, podem pelo menos desfrutar a obra dos que têm. E isso - quase - me basta. É assim que eu faço se quiser falar com Deus.

Eu falo com Deus quando ouço uma música que de alguma forma traduz algo que sinto, ou senti. E com todo mundo é assim, por isso as músicas se tornam sucesso. Não é só o instrumental que, obviamente, tem um papel importante nos sentimentos transmitidos.

Tem coisas que lemos, ou ouvimos, que nos transporta, nos faz viajar. E isso não é papo de "bicho-grilo". É assim que eu falo com Deus.

Essa letra aí de baixo, por exemplo, não poderia ter um nome melhor:


Poema

Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim

De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

Poema - Frejat/Cazuza

30.3.07

O Monte

Ele passou muito tempo ouvindo as histórias sobre o que havia ao final daquele monte. Às vezes eram histórias contadas ao pé do ouvido, entre sussurros. Outras vezes eram comentários quase que gritados aos quatro ventos. Todas as narrativas tinham pontos em comum: as descobertas, as dificuldades de chegar até lá, e finalmente, o êxtase ao fim do caminho.

O Eldorado dos espanhois com todo seu ouro. O novo caminho para as Índias, dos portugueses. As aventuras de Gulliver por terras estranhas. A viagem do Dr. Lidenbrock e seu sobrinho Axel, descendo pela Islândia até o centro da Terra. Teseu desbravando o labirinto de Dédalo. Era assim que ele se sentia. Um desbravador. Um aventureiro. Um semi-deus.

Uma coisa ele sabia: depois daquela aventura ele não seria o mesmo. Havia sim o medo, mas isso não poderia paralisá-lo. Não importava quem ou quando outros tinham chegado até lá. Agora seria sua vez.

Os conselhos ou comentários dos outros só faziam sua apreensão aumentar. Mas ele seguiu seu caminho. Não sabia ao certo como chegar. Só sabia o nome daquele lugar.

Era o Monte de Vênus.

27.3.07

Crise no Jornalismo?

Crise no jornalismo, fim do jornal diário impresso... será que essa é a questão principal? Eu não leio jornal. Sim, eu estudo jornalismo mas não leio jornal. Simplesmente não gosto. Mas não acho que essa seja a crise do jornalismo, se determinada mídia vai desaparecer amanhã ou nos próximos dez anos. A crise é do JORNALISTA. De que adiante você ser imparcial, isento, saber todas as técnicas de redação, diagramação, edição, falar fluentemente, mas na cabeça o que você leva?

No meu curso temos tudo que é possível ter em termos de técnicas. Mas acho que falta conteúdo intelectual. Ou isso não é importante para a formação de um jornalista? É importante ler todos os jornais da região, assistir aos telejornais, ouvir rádio, ler revistas semanais... Pra mim não é só isso. De que adianta você saber do novo ataque israelense aos palestinos se você nem tem idéia do porquê desse conflito?

O jornalista não tem que ser sociólogo? Tudo bem, não precisa. Mas precisa sim saber mais do que como escrever o 'lead' perfeito, qual a diferença entre artigo, matéria, perfil, Stand Up, Link, etc...

Ou simplesmente eu estou no lugar errado.

23.3.07

Eu não sei dizer...

Todo mundo tem algo para dizer.
Eu só quero mostrar...


20.3.07

Sobre o Tempo

Quanto já foi dito, escrito, discutido sobre o Tempo. Sim, com "T" maiúsculo.
O Tempo é uma entidade viva. Ele passa por nós, nos leva e, em determinado momento, nos deixa à beira da estrada.

O ser humano corre atrás do Tempo. Reclama da falta de Tempo, das atribulações do dia-a-dia, da urgência.

E Ele escorre por entre nossos dedos, entra por nossas narinas, viaja em nosso sangue e deixamos ele escapar.

Não corra atrás Dele, porque você não vai conseguir alcançá-lo!
Pare, respire fundo e aprecie o Tempo. Se você escutá-lo, ele pode ajudar você.